Tenho me sentido uma personagem de Machado de Assis. Dessas saídas das paginas de Dom Casmurro ou de um de seus contos em que a personagem principal vive tomada pela desconfiança e ciúme de quem julga ser sua amada.
Acho que Machado teve uma sacada e tanto, pois quem é ciumento está fadado a ter ciúme para sempre, basta para tanto que tenha alguém que julgue ser seu.
Outro dia estava assistindo um programa de TV e lá estavam quatro loucas desvairadas falando sobre excesso de ciúmes.
Será que isso existe? Excesso de ciúme? Então me vi tentando medir o meu e ver se me enquadrava nos exemplos de mega ciumentos. O pior de tudo é que as pessoas escreviam contando suas crises e as quatro “especialistas” se digladiavam dando sugestões dos mais diferentes tipos baseadas nas mais variadas teorias, que possam existir a respeito do tema. Freud era o mais citado. Assim, entendi que o ciúme é uma doença.
Fiquei imaginando: será que é possível ser ex ciumento? Se bem que dizem que quando se é viciado em algo, sempre será. Mas como faria então o ciumento para não ter ciúme. O chocólatra evita o chocolate, o workaholic evita o trabalho, o guloso não come, o alcoólatra não bebe. E o ciumento?
Entrei
Novamente lembrei de uma personagem de Machado que tentava desesperadamente não se afeiçoar a ninguém para não sofrer, até que aconselhada por seu amigo ( que sem ele saber havia se separado da esposa por achar que ela o traíra ) resolveu dar uma chance ao amor. Que decepção não teve ele ao descobrir que a linda mulher por quem se apaixonara era justamente a ex do seu amigo e no fim ainda teve que ajudar os dois na reconciliação. Que trauma!
Mas e ai, continuei pensando, e aqueles que enchem o peito e dizem “eu não sinto ciúme, confio no meu taco”. Será então que ser ciumento é uma patologia relacionada a algum complexo de inferioridade. Comecei a lembra dos grandes heróis da literatura que tinham tudo para ser uma personagem Machadiana perfeita, mas confiaram no ser amado. É o caso de Odisseu e também de sua mulher Penélope que o esperava pacientemente. E o que dizer do marido Menelau de Helena de Tróia que se empenhou em resgatá-la, não acreditando em nenhum momento que ela havia ido embora por vontade própria com Páris. O que dizer ainda do rei Arthur, que não se intimidou com o “casinho” de Guinevere com Lancelot. Realmente a literatura está cheia desses exemplos de como não ser ciumento.
Porém, acho que só Machado entendeu o drama do ciumento. O que o faz ciumento é a eterna desconfiança e dúvida, que pode abrandar em um certo momento, mas que com certeza prepara um retorno triunfal, com argumentos incontestáveis que, todavia, nunca chega ao fim, pois se chegar, ai sim não é mais ciúme é pura resignação.
E então, vocês acham que eu sou ciumento?
Um comentário:
eu nao diria roubar,mas posso"pegar emprestado" esse texto?
rs
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